Quem ganha seu dinheiro de forma suada sabe que o mesmo não
deve ser investido ao sabor da sorte. Existe alguma estratégia de investimento
que premia mais o esforço do que o talento e a inteligência, que são variáveis?
Existe e ela está ao alcance de todos.
Caminhamos pelos centros das grandes cidades e vemos muita
gente talentosa exibindo seus dons diante de uma lata com algumas moedas. O
violinista parece mais virtuoso do que aquele que casou com a filha de um
cantor sertanejo. Porém, ele não está no programa da TV recebendo aplausos. Ele
está olhando para você, esperando que reconheça seu esforço a ponto de tirar
uns trocados no bolso, num gesto de agradecimento por alguns acordes
inspiradores.
O que diferencia um músico do outro? Aos ouvidos de um
leigo, quase nada. Mas a sorte parece ter faltado para um e sobrado para o
outro – ou será que foram os contatos com as pessoas certas, ou a falta deles,
que resultou em oportunidades distintas?
Por vezes, o universo parece ser indiferente com as pessoas.
O melhor aluno da sala nem sempre é o melhor profissional do
mercado de trabalho. O Doutor em Economia nem sempre consegue pagar as contas
no fim do mês. Este pode viver em casa de aluguel e nem desconfiar que o dono
dela já foi pedreiro por trinta anos – e sequer completou o ensino primário.
De algum modo, confundimos inteligência com instrução, e
talento com garantia de sucesso. Somos educados para pensar assim, mas estamos
errados.
Vincent van Gogh, nascido numa família holandesa de classe
média alta, foi um fracasso em vida, embora a tenha dedicado à pintura, com
mais de duas mil obras realizadas. Seu talento só foi reconhecido anos depois
de seu passamento em 1890, a ponto dele ser considerado um gênio incompreendido
de sua época.
O PREÇO DA REALIZAÇÃO
Inteligência e talento são fatores importantes? Sim. São
decisivos? Nem sempre. Você já viu uma pessoa medíocre ocupando uma posição de
destaque numa empresa ou numa repartição pública, pois seu grande trunfo era
ser protegida por algum chefe ou cacique político? Você já espumou de raiva por
causa disso? Eu também.
Em maior ou menor grau todos nós somos dotados com alguma
inteligência e talento. Para o bem da sociedade, estas aptidões são distintas.
Porém, o grande fator que diferencia as pessoas está na força de vontade.
É a força de vontade que permite a muita gente trabalhar em
dois turnos e ainda cursar uma faculdade de noite. É a força de vontade que
permitiu ao sujeito que passava fome no Vêneto se enfiar um transatlântico e
descer no porto de Santos, sem saber em que sertão teria que arar a terra com
uma enxada, antes de comprar o primeiro par de sapatos.
Quem cursa uma faculdade de noite ou troca de continente
para ter uma vida melhor é movido inicialmente por um sonho. Sonhar é de graça.
O que pode custar muito caro é a força de vontade – ou a falta dela – para
realizar o sonho.
O INGREDIENTE COMUM DOS VENCEDORES
Somente uma boa ideia não é suficiente para uma empresa
prosperar. É preciso reunir uma equipe competente e capaz de trabalhar incansavelmente
para alcançar metas. Para cada Steve Jobs, de quantos funcionários devotados
uma Apple precisa para ser uma das empresas com maior valor de mercado no
mundo? Mais de 40 mil. Da quantidade vem a qualidade.
Quando a imprensa divulga estimativas sobre o patrimônio
bilionário de grandes investidores do mercado financeiro, como Warren Buffett
nos Estados Unidos e Luiz Barsi Filho no Brasil, é compreensível que muitos
associem o perfil deles com o de pessoas inteligentes e talentosas.
Porém, basta estudar um pouco a biografia de ambos para
constatar um traço de personalidade em comum: eles cultivaram a força de
vontade por décadas, permitindo a eles serem parceiros de grandes empresas,
mesmo quando elas atravessavam momentos de baixa nas cotações.
O motor de qualquer estratégia vencedora de investimentos é
ter capital suficiente para fazer aportes recorrentes no mercado de capitais.
Para quem ainda não colheu os primeiros dividendos para reinvestir, esse
capital só fica disponível quando alguém consegue viver com menos do que ganha.
A PEDRA ANGULAR DA EDUCAÇÃO FINANCEIRA
O princípio da educação financeira é justamente conseguir
poupar dinheiro mensalmente. É preciso ter a inteligência acima da média para
compreender isso? De modo algum. É preciso ter algum talento para conseguir
isso? Só se for para manter o atual padrão de consumo e aumentar a renda no
ofício. Mas este não é um aspecto fundamental.
O fundamental para economizar dinheiro é ter força de
vontade. Saber que é preciso deixar de ir ao restaurante favorito uma vez por
semana, para ir apenas uma vez ao mês, é fácil. Difícil é resistir à tentação e
à comodidade da jantar fora de casa. Saber que a camisa polo de marca custas
três vezes mais que a camisa genérica – e tão boa quanto – é fácil. Difícil é
controlar a vaidade.
Se, para investir suas economias no mercado financeiro, as
pessoas dependessem de muita inteligência e talento, então as empresas de
capital aberto quebrariam uma após a outra, pois as bolsas de valores ao redor
do mundo agregam pessoas de vários extratos da sociedade. Mesmo os grandes
fundos de investimento também captam recursos de trabalhadores comuns.
PERSISTIR ATÉ CONSEGUIR
Uma das belezas do mercado de capitais é que, independente
do talento e da capacidade intelectual das pessoas, ele vai premiar quem
investe no longo prazo, com força de vontade, mesmo quando a estratégia for
defensiva e conservadora, baseada em dividendos que são reinvestidos juntos com
novos aportes, por anos a fio.
Professores, médicos, advogados, engenheiros, comerciantes,
nutricionistas. Eles não possuem obrigação alguma de saber se a empresa A é
melhor que a empresa B para investir. Eles são úteis para a sociedade se
dedicando com afinco em seus ofícios. Se eles quiserem atuar como investidores,
vão precisar de parte desse afinco para poupar recursos.
Eles não dispõem de tempo para fazer jogadas mirabolantes
com alta rentabilidade e alto risco, capazes de levá-los ao Olimpo ou à sarjeta
em questão de minutos. Por isso eles precisam investir no longo prazo, em
ativos suportados por gente como eles: repleta de força de vontade.
Escrito por Jean Tosetto