No
filme “1922”, baseado no conto de Stephen King, há uma frase que diz: “Acho que
há outro homem dentro de cada homem”.
Talvez isso seja verdade.
Talvez dentro de cada um exista uma face diferente daquela que fica aparente.
No caso do filme, havia um lado mais sombrio dentro do personagem. Porém,
dependendo da forma como temos vivido, talvez tenhamos uma versão mais indulgente,
sábia e habilidosa que precisa ser explorada, não apenas para sermos melhores
com o mundo, mas, principalmente, para sermos melhores com nós mesmos.
O ato de perdoar é o ato de
desapegar. Desapegar do que nos feriu, do que ficou por dizer, do que não tem
mais como remediar. Desapegar da vontade de dar o troco, a última palavra, a
última ignorada. Desapegar do desejo de estarmos certos, da vontade de provar
ao mundo nossa razão, do intuito de causar dor em quem nos causou dano.
Desapegar, acima de tudo, da inquietação e falta de paz gerada pelo desejo de
acusar, incriminar, vingar e castigar quem nos feriu.
Perdoar não significa que você acredita que a pessoa que te feriu merece
perdão, mas que você merece paz. Perdoar nos autoriza a seguir em frente com
serenidade, sem o peso de bagagens carregadas de mágoas, dores, sofrimento.
Perdoar é uma habilidade. Um trato com o desejo de sermos gentis com nossa
alma, ressignificando o que é importante, o que deve ser valorizado, e dando um
basta a tudo o que é supérfluo e já não cabe mais em nossa nova etapa de vida.
Às vezes a gente foca tanto nas
maneiras de revidar uma ofensa, de vingar uma mágoa, de responder a um
desacato, de replicar uma provocação que esquece que está alimentando nossa
alma com energias ruins, e o maior prejudicado é a gente mesmo. Talvez seja
hora de buscar dentro de nós aquela nossa versão mais sábia e madura, que não
aceita se desgastar por questões mal resolvidas e desejos de reparação. Talvez
seja hora de simplesmente deixar pra lá…
Perdoar é fazer um detox na
alma. É varrer para fora todo lixo que deixaram em você, e que você tem
alimentado com flashbacks carregados de tristeza e mágoa. Perdoe, supere,
esqueça. Não valorize o mal que fizeram, o trauma que causaram, o buraco que
deixaram. Não coloque num pedestal quem te feriu ou a dor que causou, mas antes
descubra que é bom deixar ir, para que os espaços sejam ocupados por aquilo que
torna a sua vida mais leve e livre de vínculos com aquilo que te envenena e
aprisiona.
Texto
de Fabíola Simões