Era uma vez três porquinhos: Cícero, Heitor e Prático. Um
belo dia, os três porquinhos decidiram sair da casa de sua mãe e construir as
próprias casas. Cícero construiu para si uma casa de palha, Heitor, uma casa de
madeira, e Prático, uma casa de tijolos. Cícero e Heitor construíram
rapidamente suas casas, enquanto Prático demorou mais para construir a sua, já
que era mais difícil erguer paredes de tijolos do que de palha ou de madeira.
Certa vez, apareceu um lobo nas redondezas. Movido por sua
natureza predatória, o lobo quis devorar os porquinhos. Indo à casa de Cícero,
o lobo bateu à porta. Cícero se escondeu, mas o lobo derrubou a casa com seu
poderoso sopro, fazendo Cícero fugir. Em seguida, o lobo foi à casa de Heitor,
que também se escondeu quando o lobo bateu à porta. Novamente, o lobo usou seu
sopro poderoso, derrubando a casa do segundo porquinho, que fugiu para a casa
de seu irmão Prático – onde encontrou Cícero, que fugira para lá antes.
O lobo, então, foi à casa de Prático. Tentou derrubar a
casa, mas não conseguiu, pois a casa de tijolos era bem forte. Então, o lobo
empreendeu uma nova tática e, vendo que a casa tinha uma chaminé, tentou usá-la
para entrar na casa. No entanto, Prático acendeu o fogo e pôs sobre ele uma
panela, que começou a queimar a cauda do lobo. O lobo fugiu, machucado, e os
porquinhos ficaram a salvo. Mas não por muito tempo.
Dias depois, todos os jornais noticiaram que o pobre lobo
havia sido discriminado pelos três porquinhos, que haviam adotado uma postura
conservadora e reacionária contra o lobo por não quererem entender a sua
natureza. O lobo entrou com uma representação na Secretaria Especial da
Igualdade Animal da Presidência da República, que encaminhou o caso ao
Ministério Público Animal.
O Ministério Público Animal, após alguns dias de
investigação, encaminhou denúncia à Justiça Animal contra os três porquinhos
por especismo (preconceito contra uma espécie) e tentativa de lupicídio.
Diversas ONGs do movimento lupino promoveram “esculachos” na frente da casa dos
porquinhos, denunciando o inaceitável conservadorismo suíno. O Conselho
Lupinista Missionário publicou uma carta-aberta do lobo, denunciando que o ato
cometido contra ele pelos porquinhos representava o genocídio que a nação
lupina sofria nas mãos da elite suína.
A comoção nacional foi geral. Passeatas foram convocadas nas
redes sociais contra o genocídio lupino, com os revoltados acrescentando em
seus nomes o termo Loboni-Uivoá em homenagem ao pobre lobo. Personalidades
animais manifestaram-se no Twitter, deram declarações a jornais e revistas, e
até um vídeo foi elaborado com atores de uma prestigiosa emissora de televisão
para sensibilizar as pessoas. O Executivo criou a Campanha do Despanelamento
com a justificativa de recolher as panelas clandestinas para reduzir os índices
de violência e promover uma cultura de paz. As ONGs do movimento lupino
entraram com uma ação de expropriação contra os porquinhos com base em estudos
que apontavam que aquela região pertencia originalmente aos ancestrais lupinos,
expulsos dali pelo agronegócio suíno muitas décadas antes. A Justiça Animal
considerou a ação procedente, acatou o pedido e despejou os porquinhos, ordem
que foi cumprida pela Força de Segurança Animal, dando a casa para o lobo.
Presos, os porquinhos foram condenados pela Justiça Animal pelos crimes de
tentativa de lupicídio e especismo, o que rendeu a eles uma pena bastante
pesada. Importantes apoiadores da causa lupina, como o Frei Lobonardo Boff,
disseram que aquele era um dia especial para todas as vítimas do especismo
reacionário dos porcos brancos de olhos azuis, e outros aplaudiram a decisão da
Justiça Animal, que certamente representava a valorização das lutas históricas
dos povos lupinos.
Em tempo: esta é uma adaptação livre de um conto infantil, e
se trata apenas de uma pequena obra de ficção.
Qualquer semelhança com a
realidade é mera coincidência.
Nenhum comentário:
Postar um comentário