terça-feira, 20 de outubro de 2015

SEM SENTIDO


A vida, na sua banalidade cotidiana, torna-se meio sem sentido, o que me faz refletir: qual a razão da existência, afinal? Nascemos sem pedir, paridos sem quê nem pra quê, alguns ainda têm a má sorte de ter pais horripilantes, com irmãos piores ainda, numa família totalmente desconjuntada. 
E eu fico pensando: por que muitas pessoas sofrem tanto? Caem neste mundão sem nenhuma explicação, ficam velhas, pobres, feias e, finalmente, morrem. 
Qual o sentido disso tudo?
Alguns agraciados nascem com “aquilo virado pra lua”. 
Tudo dá certo. 
Mas esses fazem parte de uma privilegiada minoria. 
No geral, o homem veio aqui pra sofrer. 
Ninguém, por mais que tenha uma vida considerada boa, consegue ser plenamente feliz, pois já deu para perceber que a tão almejada felicidade resume-se a “momentos efêmeros”. 
Com algum dinheiro no bolso o sujeito consegue prolongar a duração desses momentos. 
Obviamente, é preferível ser um infeliz rico do que um infeliz pobre. 
Mas, o que se quer neste texto é discutir sobre o porquê de tudo isso. Sei que me dirão que estamos aqui para ser salvos e conquistar o reino dos céus. 
Tudo bem, mas quem escolheu vir até aqui, passar por tudo isso e conquistar o céu? Por que não fomos direto ao Paraíso, sem precisar passar por essa etapa? Esse negócio de ter que morrer é muito chato.
E os nossos amigos? E as pessoas queridas de nossas vidas? Será que as encontraremos depois da morte? Uma vida inteira de convivência, de amor, dedicação, afeto, carinho, sexo e tudo o mais, é suficiente para garantir a continuidade depois? O sujeito trabalha, luta, tenta de tudo na vida e, no final do mês, paga a conta de água, luz, telefone, aluguel, escola para os filhos, o supermercado, o combustível do carro (os que têm), atrasa algumas prestações, vai levando aos trancos e barrancos, aposenta-se, sofre desvairadamente, e, antes de morrer, geralmente contrai alguma doença, sofre um pouco mais, dilapida o patrimônio, dá despesa para os parentes vivos e, finalmente – para a felicidade geral – morre. Outras pessoas acabam seus dias num asilo, sozinhas, abandonadas pelos filhos, sem amparo, sem carinho, sem nada. 
Qual a razão de tudo isso?
Aqueles velhinhos felizes, saudáveis e rodeados por netos, só aparecem nos comerciais de margarina. 
Na vida real, é bem diferente, com raríssimas exceções. 
Como diz o meu amigo Dianarí, na medida em que envelhecemos nos tornamos menos importantes. 
Velho rico é coisa rara neste país. 
Aqueles helicópteros de plano de saúde, rápidos e eficientes, só pousam em minguados heliportos. 
A maioria dos idosos doentes brasileiros costuma sair às pressas nas velhas ambulâncias de nossas prefeituras, ou nalgum avião fretado por um político qualquer, quando tem muito voto para oferecer em troca.
Os amigos, aqueles verdadeiros, quase sempre vão morar bem longe. 
Tomam rumos diferentes, seguem vidas diferentes, se casam com mulheres insuportáveis que implicam com suas velhas amizades de infância e, de vez em quando, aparecem para tomar uma cerveja e chorar as mágoas. 
E todo mundo preocupado em ganhar dinheiro, loucos por uma posição melhor na sociedade, um status qualquer para ser recebido nas altas rodas, fazer amizades falsas e fingir que são felizes. 
Quanta mediocridade! Enquanto isso, a vida passa bem ao nosso lado, imperceptivelmente.
De felicidade para o povo brasileiro, resta o futebol, as novelas e o sexo. 
É muito pouco. 
Mas, para alguns, também resta a esperança do aguardado encontro com Deus. Por incrível que pareça, mesmo vivendo essa vida sem sentido, ninguém quer morrer e, sempre que aparece uma oportunidade, vociferam de peito aberto: “Como é bom viver!”. 
É o instinto de sobrevivência. 
Só pode ser.


Autor: Meu amigo Dídimo Heleno