A vida, na sua banalidade cotidiana, torna-se meio sem sentido, o que me faz refletir: qual a razão da existência, afinal? Nascemos sem pedir, paridos sem quê nem pra quê, alguns ainda têm a má sorte de ter pais horripilantes, com irmãos piores ainda, numa família totalmente desconjuntada.
E eu fico pensando: por que muitas pessoas sofrem tanto? Caem neste mundão sem
nenhuma explicação, ficam velhas, pobres, feias e, finalmente, morrem.
Qual o
sentido disso tudo?
Alguns agraciados nascem com “aquilo virado pra lua”.
Tudo
dá certo.
Mas esses fazem parte de uma privilegiada minoria.
No geral, o homem
veio aqui pra sofrer.
Ninguém, por mais que tenha uma vida considerada boa,
consegue ser plenamente feliz, pois já deu para perceber que a tão almejada
felicidade resume-se a “momentos efêmeros”.
Com algum dinheiro no bolso o
sujeito consegue prolongar a duração desses momentos.
Obviamente, é preferível
ser um infeliz rico do que um infeliz pobre.
Mas, o que se quer neste texto é
discutir sobre o porquê de tudo isso. Sei que me dirão que estamos aqui para
ser salvos e conquistar o reino dos céus.
Tudo bem, mas quem escolheu vir até
aqui, passar por tudo isso e conquistar o céu? Por que não fomos direto ao
Paraíso, sem precisar passar por essa etapa? Esse negócio de ter que morrer é
muito chato.
E os nossos amigos? E as pessoas queridas de nossas vidas?
Será que as encontraremos depois da morte? Uma vida inteira de convivência, de
amor, dedicação, afeto, carinho, sexo e tudo o mais, é suficiente para garantir
a continuidade depois? O sujeito trabalha, luta, tenta de tudo na vida e, no
final do mês, paga a conta de água, luz, telefone, aluguel, escola para os
filhos, o supermercado, o combustível do carro (os que têm), atrasa algumas
prestações, vai levando aos trancos e barrancos, aposenta-se, sofre
desvairadamente, e, antes de morrer, geralmente contrai alguma doença, sofre um
pouco mais, dilapida o patrimônio, dá despesa para os parentes vivos e,
finalmente – para a felicidade geral – morre. Outras pessoas acabam seus dias
num asilo, sozinhas, abandonadas pelos filhos, sem amparo, sem carinho, sem
nada.
Qual a razão de tudo isso?
Aqueles velhinhos felizes, saudáveis e rodeados por netos,
só aparecem nos comerciais de margarina.
Na vida real, é bem diferente, com
raríssimas exceções.
Como diz o meu amigo Dianarí, na medida em que
envelhecemos nos tornamos menos importantes.
Velho rico é coisa rara neste
país.
Aqueles helicópteros de plano de saúde, rápidos e eficientes, só pousam
em minguados heliportos.
A maioria dos idosos doentes brasileiros costuma sair
às pressas nas velhas ambulâncias de nossas prefeituras, ou nalgum avião
fretado por um político qualquer, quando tem muito voto para oferecer em troca.
Os amigos, aqueles verdadeiros, quase sempre vão morar bem
longe.
Tomam rumos diferentes, seguem vidas diferentes, se casam com mulheres
insuportáveis que implicam com suas velhas amizades de infância e, de vez em
quando, aparecem para tomar uma cerveja e chorar as mágoas.
E todo mundo
preocupado em ganhar dinheiro, loucos por uma posição melhor na sociedade, um
status qualquer para ser recebido nas altas rodas, fazer amizades falsas e
fingir que são felizes.
Quanta mediocridade! Enquanto isso, a vida passa bem ao
nosso lado, imperceptivelmente.
De felicidade para o povo brasileiro, resta o futebol, as
novelas e o sexo.
É muito pouco.
Mas, para alguns, também resta a esperança do
aguardado encontro com Deus. Por incrível que pareça, mesmo vivendo essa vida
sem sentido, ninguém quer morrer e, sempre que aparece uma oportunidade,
vociferam de peito aberto: “Como é bom viver!”.
É o instinto de sobrevivência.
Só pode ser.
Autor: Meu amigo Dídimo Heleno
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