Pai,
o senhor que nos deixou tão cedo, senti sua falta.
Pai,
o senhor que esteve presente em casa, mas ausente de nossas vidas. Senti sua
falta.
Pai,
passei pela vida, a te buscar em outros personagens. Ás vezes em um amigo mais
velho, algumas vezes em um artista ou herói da televisão. Senti sua falta.
Pai,
passei muitos anos confuso, passei por caminhos e labirintos que nunca iria
sair de lá, senti sua falta.
Senti
sua falta. Não de você especificamente. Senti falta de uma parte de mim, um
vazio de alma, do meu caráter e personalidade que não foi preenchido por
completo no tempo adequado, por falta da figura paterna.
Os
prejuízos foram incalculáveis, o senhor não tem noção. Sempre senti uma
angústia, uma falta, uma insegurança, uma dor e vivia sempre em dúvida. Nunca
entendi. Hoje entendo, foi sua falta. Melhor digo, foi a falta de referência.
Quantas
vezes gostaria de ter conversado, quantas vezes gostaria de ouvir uma palavra
de incentivo e sabedoria, ou simplesmente a sua presença em momentos difíceis,
até mesmo seu abraço silencioso.
Meu
velho, nós nunca nos abraçamos, nós nunca falamos sobre suas paqueras e suas
aventuras e desventuras. Nunca pescamos juntos, sequer jogamos bola juntos.
Quantas
vezes perguntas eu fiz pra ti, e quantas vezes perguntas foram feitas a mim,
por mim, e não obtive sequer uma palavra. Fui ignorado.
Hoje
compreendo, que senhor não poderia ter me dado o que você não recebeu. Não que
isto sirva de desculpa, mas ameniza, serviu como ponto de partida para liberar
minha vida. Perdoei.
Não
sei se percebeu, mesmo ausente, eu te chamei pelo pronome de tratamento
‘’senhor’’, pois, independente que quem foi ou quem o senhor não foi, eu te
respeito. Acho também que não deve ter percebido que usei o verbo no
passado, ‘’senti’’.
Senti,
porque não sinto mais sua falta, nem a falta de referencial. Sou grato a todos
que contribuíram pra que chegasse a ser o homem que sou, sou grato também a sua
ausência, pois ela forjou em mim um homem forte diante dos inimigos, resistente
a adversidade e lúcido nas noites escuras.
Senti,
porque todo vazio que eu senti, já foi preenchido com a idéia de que serei pai.
Senti porque todos erros cometidos comigo não cometerei. Não foi fácil deixar
de sentir, mas, preenchido estou, pela consciência que sou um homem
integral, corpo, alma e espírito. Preenchido pela consciência de que a vida me
deu a oportunidade de me completar com a presença dos meus filhos que virão. Com
a consciência que não tive como escolher o meu pai, mas, tenho como escolher
que pai serei e que tipo de homem quero ser.
Não escolhi o papel de vítima da história por não ter te conhecido, por
estar ausente ou por ter ido. Mas, em favor e respeito a minha vida, aos
que me amam, a minha saúde mental, física e espiritual, escolho o papel de
protagonista. Aquele que faz da sua tragédia, um motivo para ser melhor.
Escolho,
verbo no presente, pois, é algo que tenho que optar todos os dias. Todos os
dias, a vida me dá um motivo pra eu ser o ator principal da minha vida. A você
pai, esteja onde estiver, estendo minha mão, mesmo que através dos meus
pensamentos. Pois uma mão amiga enche a alma de dignidade e a história de um
homem de significados.
Vida
a todos, saúde e paz a todos.