domingo, 30 de março de 2014

UM HOMEM SEM O SEU PAI




Meu pai, o senhor que se foi quando eu era criança, senti sua falta.
Pai, o senhor que nos deixou tão cedo, senti sua falta.
Pai, o senhor que esteve presente em casa, mas ausente de nossas vidas. Senti sua falta.
Pai, passei pela vida, a te buscar em outros personagens. Ás vezes em um amigo mais velho, algumas vezes em um artista ou herói da televisão. Senti sua falta.
Pai, passei muitos anos confuso, passei por caminhos e labirintos que nunca iria sair de lá, senti sua falta.


Senti sua falta. Não de você especificamente. Senti falta de uma parte de mim, um vazio de alma, do meu caráter e personalidade que não foi preenchido por completo no tempo adequado, por falta da figura paterna.

Os prejuízos foram incalculáveis, o senhor não tem noção. Sempre senti uma angústia, uma falta, uma insegurança, uma dor e vivia sempre em dúvida. Nunca entendi. Hoje entendo, foi sua falta. Melhor digo, foi a falta de referência.

Quantas vezes gostaria de ter conversado, quantas vezes gostaria de ouvir uma palavra de incentivo e sabedoria, ou simplesmente a sua presença em momentos difíceis, até mesmo seu abraço silencioso.

Meu velho, nós nunca nos abraçamos, nós nunca falamos sobre suas paqueras e suas aventuras e desventuras. Nunca pescamos juntos, sequer jogamos bola juntos.

Quantas vezes perguntas eu fiz pra ti, e quantas vezes perguntas foram feitas a mim, por mim, e não obtive sequer uma palavra. Fui ignorado.

Hoje compreendo, que senhor não poderia ter me dado o que você não recebeu. Não que isto sirva de desculpa, mas ameniza, serviu como ponto de partida para liberar minha vida. Perdoei.

Não sei se percebeu, mesmo ausente, eu te chamei pelo pronome de tratamento ‘’senhor’’, pois, independente que quem foi ou quem o senhor não foi, eu te respeito.  Acho também que não deve ter percebido que usei o verbo no passado, ‘’senti’’.

Senti, porque não sinto mais sua falta, nem a falta de referencial. Sou grato a todos que contribuíram pra que chegasse a ser o homem que sou, sou grato também a sua ausência, pois ela forjou em mim um homem forte diante dos inimigos, resistente a adversidade e lúcido nas noites escuras.


Senti, porque todo vazio que eu senti, já foi preenchido com a idéia de que serei pai. Senti porque todos erros cometidos comigo não cometerei. Não foi fácil deixar de sentir, mas, preenchido estou,  pela consciência que sou um homem integral, corpo, alma e espírito. Preenchido pela consciência de que a vida me deu a oportunidade de me completar com a presença dos meus filhos que virão. Com a consciência que não tive como escolher o meu pai, mas, tenho como escolher que pai serei e que tipo de homem quero ser.


Não escolhi o papel de vítima da história por não ter te conhecido, por estar ausente ou por ter ido. Mas, em  favor e respeito a minha vida, aos que me amam, a minha saúde mental, física e espiritual, escolho o papel de protagonista. Aquele que faz da sua tragédia, um motivo para ser melhor.

Escolho, verbo no presente, pois, é algo que tenho que optar todos os dias. Todos os dias, a vida me dá um motivo pra eu ser o ator principal da minha vida. A você pai, esteja onde estiver, estendo minha mão, mesmo que através dos meus pensamentos. Pois uma mão amiga enche a alma de dignidade e a história de um homem de significados.


Vida a todos, saúde e paz a todos.

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