Seja rápido no ouvir e lento no falar!
Ouvir é realmente difícil, pois devemos esquecer nossa personalidade para dedicar atenção à personalidade do outro; e mais, devemos fazer isso de corpo e alma. Ouvir é bem mais do que um simples processo. É uma atitude mental, voluntária e consciente e será sempre a atitude mental, a nossa predisposição que irá dar maior ou menor eficiência à audição, que depende de fatores físicos e de fatores mentais.
Como ouvir é um processo essencialmente ativo, reclamando toda a nossa concentração física e mental, os fatores físicos do ambiente podem pesar muito. Assim, o calor ou frio excessivos, ruídos, iluminação demais ou de menos, o meio-ambiente, condições de saúde, deficiências auditivas e forma de apresentação ou linguagem de quem está falando têm grande peso. Uma pessoa com temperamento azedo tem grande dificuldade em ouvir dada a sua predisposição contrária provocada pelo azedume.
Já os fatores mentais têm um peso significativamente maior visto que a maioria dos fatores físicos pode ser contornada ou controlada. O mesmo não acontece com os fatores mentais, dentre os quais temos:
1. Indiferença
A Indiferença mata!, diz o ditado popular e na verdade é ela o oposto do Amor, não o Ódio como muitos pensam. Amor e Ódio são emoções chamadas verdadeiras na Psicologia pois quem ama o faz de verdade, assim como quem odeia; consequentemente, as duas emoções não podem ser opostas mas sim paralelas. Já a Indiferença, esta é a ausência do sentimento e incompatível com qualquer forma de aprendizado e com a audição.
O ouvinte indiferente não ouve e não o faz exatamente porque não está interessado, não tem um motivo para ouvir. Qualquer criatura humana se comporta de acordo com seus motivos; portanto, para que uma pessoa ouça é preciso que tenha motivos para fazê-lo, seja interesse individual, vantagem, benefício ou o que seja. Mas, o problema aqui é que todos nós, também, temos necessidade de sermos ouvidos e nada fere mais nosso amor próprio do que a indiferença com que nos ouvem.
2. ImpaciênciaO ato de ouvir exige, de quem ouve, associar-se a quem fala e vice-versa. É indispensável estabelecer-se uma espécie de sociedade entre locutor e ouvinte. É necessário o empenho de quem fala em fazer-se compreendido e de quem ouve para compreender. Regra geral, ouvimos muito mais depressa do que as pessoas conseguem falar e muitos de nós pensam ser possível ouvir e fazer outra coisa ao mesmo tempo, quando o ato de ouvir exige reflexão e concentração.
Toda emoção perturba o processo da audição, seja positiva ou negativa.
Tornamo-nos impacientes por várias razões: temos outro compromisso e já estamos atrasados; discordamos de quem está falando; acreditamos já saber onde o locutor quer chegar; o locutor fala mal ou usa linguagem complicada, ou fala muito devagar ou muito depressa; estamos cansados e querendo estar em outro lugar. Seja qual for o motivo e o tipo da Impaciência, quem sai afetada é a audição.
3. Preconceito
Ouvir é ato voluntário e consciente. Ouvimos porque queremos ouvir; não ouvimos porque não queremos ouvir. Assim como o pior cego é o que não quer ver, o pior surdo é o que não quer ouvir.
Todos temos interiormente uma espécie de seletor, que podemos desligar à vontade ainda que continuemos dando a impressão de estar ouvindo. Graças ao funcionamento preciso desse seletor somos capazes de expressões faciais ou corporais coincidentes com as palavras que não estamos ouvindo e o Preconceito é o piloto automático desse estranho aparelho.
Aferramo-nos às nossas próprias idéias e se um orador diz alguma coisa capaz de perturbá-las o seletor entra imediatamente em ação, despertando em nós o antagonismo contra quem fala e a partir daí passamos a raciocinar contra o orador e, consequentemente, deixamos de ouvir!
Ninguém, ou muito poucas pessoas, tem consciência de seus próprios preconceitos. Na verdade, todos nós achamos até que somos bons ouvintes o que, infelizmente, quase sempre está longe da verdade e o desenvolvimento da consciência do peso dos preconceitos sobre a audição poderia constituir o primeiro passo para ouvirmos melhor, para uma audição compreensiva.
4. Preocupação
A palavra preocupação significa ocupação antecipada. Preocupar-se é prender a atenção e com esta pressa a uma ocupação antecipada é absolutamente impossível ouvir. A audição é uma ocupação interna e exige atenção total.
5. Oportunidade (ou Momento)
Ouve melhor quem ouve no momento certo, assim como será melhor ouvido quem falar no momento certo. Falta ao Homem moderno o senso da oportunidade de ouvir, aqueles momentos em que possa entregar-se aos prazeres e às surpresas do grande laboratório da experiência humana, que é a audição concentrada e atenta.
Se procurarmos refletir sobre esse assunto certamente chegaremos a uma conclusão bastante simples: todos temos o que aprender sobre essa maravilhosa arte do Ouvir.
Como poderemos cultivar a Tolerância, se descuidarmos do ouvido? O fato de termos apenas uma boca mas dois ouvidos já não seria razão suficiente para nos fazer refletir que nosso tempo precisa ser dedicado mais ao ouvir do que ao falar?
A cooperação e o entendimento entre os Homens e sua capacidade para viver juntos e coordenar esforços, evitando conflitos ruinosos, é determinada em grande parte por sua capacidade de se ouvirem mutuamente. Todo esforço, portanto, para uma comunicação interpessoal mais efetiva pode representar contribuição decisiva para a construção de um mundo melhor, mais justo e mais fraterno.
Ouvir pela metade é como acelerar o motor do carro com o câmbio em ponto morto; gasta-se energia desnecessária.
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