domingo, 9 de outubro de 2011

A SORTE EM SUAS MAOS

Nem destino, nem acaso. A sorte, segundo a psicologia moderna, é uma conquista racional que se obtém com esforço, disciplina e otimismo

As irmãs Márcia, de 35 anos, e Denise, de 32, foram criadas sob o mesmo teto e receberam dos pais as mesmas oportunidades, carinho e atenção. Mesmo assim, tiveram na vida o que se costuma chamar de sortes opostas. A mais velha, considerada por todos a mais sortuda, desde pequena se destacou pelo seu bom desempenho na escola, na relação com os amigos e a família. Hoje é uma arquiteta de sucesso, casada e feliz com dois filhos de dez e cinco anos - seus maiores orgulhos. Denise seguiu uma trajetória menos empolgante. Nunca se interessou pelos estudos, por isso não construiu uma carreira profissional, o que agora a obriga a aceitar qualquer trabalho para se sustentar. Como também não é de fazer amizades, dificilmente arranja namorado e vive muito sozinha, lamentando-se da sua falta de sorte. Ainda por cima sente ciúme da irmã, achando que a outra está melhor do que ela por ter recebido mais privilégios dos pais.

A história acima chama a atenção para uma questão polêmica: por que algumas pessoas são bem-aventuradas e outras não? Preste atenção à sua volta. Você já reparou no seu trabalho, entre seus amigos ou mesmo na sua família como alguém sempre se sobressai aos demais? É aquele indivíduo cuja vida parece mais leve, doce e fácil, pois para ele tudo tende a dar certo. Por outro lado, existem pessoas que passam a impressão de terem sido marcadas pelo chamado azar. Vão mal nos negócios, nos relacionamentos, vivem se queixando de doenças e insatisfações. O mundo está cheio de gente assim, mas a pergunta recorrente é até onde o que acontece a todas elas está relacionado com o fator sorte. Ela existe mesmo ou não passa de uma crença, alimentada ao longo dos tempos na tentativa de explicar situações que não conseguimos compreender? Outra dúvida: se pode ser conquistada, o que devemos fazer para nos tornamos merecedores?

A fim de responder a esses questionamentos, pesquisadores e curiosos de toda parte do mundo vivem estudando o assunto. Alguns desses trabalhos, transformados em livros, demonstram que sorte não é mera casualidade, como se imagina, muito menos uma dádiva do universo para poucos privilegiados. A promessa dos estudiosos é a de que qualquer pessoa pode tê-la, basta criar condições e ir atrás. "Os sortudos fazem a boa sorte por meio de comportamento e atitudes mentais", resume o psicólogo inglês Richard Wiseman, um dos mais respeitados profissionais do Reino Unido e especialista no tema.


Durante anos, Wiseman analisou as diferenças de comportamento de pessoas "muito sortudas" e "muito azaradas". Descobriu que as primeiras eram otimistas, demonstravam iniciativa, atitude proativa e atenção às oportunidades. Já as ditas azaradas mostravam-se pessimistas ou conformadas, costumavam adotar atitudes defensivas diante dos problemas e não raro deixavam passar oportunidades visíveis. O pesquisador percebeu também que quando estas últimas assumiam posturas mais positivas, sua sorte melhorava.

As conclusões do estudo deram origem ao livro O Fator Sorte (ed. Record), no qual o psicólogo aponta que os vencedores seguem quatro princípios básicos: maximizam e otimizam as oportunidades; são criativos e abertos a novas experiências; confiam na própria intuição e procuram fortalecê-la; sabem extrair algo positivo dos maus momentos. Thereza Cheung, autora do livro Toda a Sorte do Mundo (ed. Fundamento) compartilha da opinião de Wiseman. Para ela, as pessoas afortunadas são como todas as outras, trabalham duro e desejam coisas boas. Mas se tornam especiais pelo que fazem para atraí-las.

"Elas se acreditam merecedoras, não permitem que pontos de vista equivocados mudem a visão que têm de si mesmas e transformam o acaso em oportunidade", sublinha Thereza. Dito de outra maneira, sorte seria o encontro da oportunidade com a preparação, como observa Paul Hanna, autor de Você Pode! Descubra o caminho para mudar e vencer (ed. Fundamento): "Quando você concentra todas as suas energias e pensamentos em um objetivo, as oportunidades começam a aparecer". Acompanhe a seguir os passos mais importantes, na visão dos estudiosos, para mudar a sua sorte - para melhor! - e ser mais feliz no amor, no trabalho, nas finanças e nos relacionamentos

Muitas vezes desejamos algo, mas não sabemos exatamente o quê, aí nada acontece e passamos a nos considerar sem sorte. No entanto, a falha pode estar na falta de objetividade. "Isso dificulta demais as realizações", afirma o psicólogo José Roberto Leite, coordenador da Unidade de Medicina Comportamental da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp). Ele acredita que para se obter sucesso é preciso estabelecer metas e montar as estratégias adequadas.

Ou seja, descobrir o objetivo - ser promovido no trabalho, encontrar o par ideal - e buscar os meios de concretizá-lo. "Às vezes a pessoa até possui um norte, mas usa estratégias inadequadas", comenta. Por exemplo, um jovem quer arranjar uma namorada e se chateia porque os amigos conseguem e ele não. Mas quantas vezes ele tenta se aproximar de garotas interessantes? "A vida é como um jogo: quanto mais você investe, maior sua chance de acertar", compara Leite.

Senso de oportunidade
A maneira como lidamos com situações do dia-a-dia também podem determinar nossa sorte, para o bem ou para o mal. "Pessoas com sorte conseguem perceber quando as boas chances cruzam seu caminho porque estão atentas e olham o mundo de maneira mais tranqüila.

As sem sorte tendem a ser mais ansiosas. Estão ocupadas demais olhando fotografias no jornal que nem sequer notam num anúncio a possibilidade de ganhar um prêmio instantâneo", afirma Richard Wiseman, em O Fator Sorte. Segundo o psicólogo, um instrumento poderoso para identificar esses sinais é a intuição. Assim, vale a pena ouvir a voz interior antes de fazer qualquer julgamento ou tomar uma decisão.


Poder de realização
Gary Player, um dos maiores jogadores da história do golfe, tem uma frase célebre que resume o seguinte: "Quanto mais você trabalha, mais sortudo se torna".

Portanto, além de definir metas, criar estratégias, perceber as oportunidades, devemos nos empenhar e nos dedicar com afinco para concretizar nossos sonhos. O coordenador da Unifesp, José Roberto Leite, diz que a psicologia atual se preocupa muito em trabalhar com as pessoas para que elas possam aumentar suas chances de realizações. E uma forma, segundo essa nova linha de pensamento, é valorizando todos os aspectos da vida: físico, mental, afetivo, profissional. "A pessoa é estimulada a pensar em sua vida como se fosse uma empresa com diferentes departamentos. A observar como se situa em cada setor e o que falta fazer para alcançar os resultados desejados. "

Visão objetiva e otimista
José Roberto Leite recorda uma frase do filósofo grego Epíteto - um dos pais da terapia cognitiva - que diz: "Não são as coisas que trazem desconforto para nossa vida, mas a forma como as enxergamos".

O psicólogo da Unifesp acha importante prestar atenção nisso porque nem sempre vemos as situações como elas realmente são, mas de acordo com nosso estado de espírito. "Uma pessoa deprimida pode achar que não faz nada de valor porque, naquele momento, está vendo a realidade de forma distorcida, sem otimismo", explica. Não que sejam azaradas, estão apenas se sentindo como tal. "Para encontrar a sorte e chegar aonde se quer às vezes é necessário mudar de ponto de vista", afirma a escritora Thereza Chueng, em Toda a Sorte do Mundo. Se algo não vai bem, em vez de nos lamuriarmos, devemos nos perguntar o que podemos fazer para melhorar.

Confiança, controle e determinação
Se acreditamos merecer mais do que a vida nos oferece, devemos investir nisso: confiar em nossa potencialidade, aprimorá-la com mais conhecimento, abrir espaço em nossa vida para as novas oportunidades e trabalhar com persistência até alcançar nossos propósitos. Isso porque a sensação de felicidade das pessoas está de certa forma associada ao sentimento de controle da própria vida. "Quem sabe administrar seus sentimentos consegue distinguir o real do imaginário ou equivocado e usa essas habilidades a seu favor, tem uma vida muito mais consciente e plena", conclui o psicólogo da Unifesp

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