sábado, 11 de junho de 2016

VIAGEM PELA AMAZÔNIA



                   Há muito tempo pensava em fazer uma viagem de barco pelos rios da Amazônia; mas não queria fazer uma viagem de turismo convencional, com  luxo  e  roteiro pré-determinado; queria viajar pela Amazônia, como as pessoas que vivem na região viajavam; queria vivenciar o dia a dia dessas pessoas; ou seja, queria viver a realidade do lugar, com suas peculiaridades, suas dificuldades e limitações.
                     Porém fazer uma viagem dessas, para alguém que está longe de se aposentar, não é uma tarefa simples; demanda muito tempo; e tempo disponível no meu caso, sempre foi bem escasso.
                   Mas como tudo nessa vida tem o seu momento; certo dia, acordei pensativo e decidido dar uma pausa em alguns compromissos; colocando em pratica aquela viagem que estava sendo pensada há muito tempo. Seria uma viagem de conhecimento interno e externo; uma viagem de observação; de meditação; de contemplação e muito aprendizado. Fazer uma viagem dessas, na qual a única companhia conhecida e confiável é você mesmo, pode lhe proporcionar uma  oportunidade única de conhecer uma região magnífica e se conhecer melhor; pois a introspecção se torna inevitável.
                   Enfim tomei a decisão; chegou o momento de sair sem pressa ou data marcada de voltar.
                  A primeira parte da viagem seria ir de Palmas até Belém; pois, iria começar navegando o Rio Amazonas a partir de Belém. Decidi também, ir de ônibus de Palmas, a capital do Tocantins, onde moro, até Belém. Para quem vai fazer uma viagem sem pressa, disposto a enfrentar algumas dificuldades e pouco conforto, já seria um bom começo ir de ônibus; ainda mais para uma pessoa como eu que já tinha uns 20 anos que não andava de ônibus; o desafio já começaria pela rodoviária de Palmas.
                  Enfim no dia 08/05/2016 as 08h30min da manhã, estou saindo de Palmas para uma viagem de 23 horas dentro de um ônibus; depois de uma hora dentro do ônibus já comecei não me sentir muito bem; alguns enjôos, dores de cabeça, tontura; um mal estar previsível pela falta de costume com aquele meio de transporte. Mas, nada melhor que algumas dificuldades para o corpo, para serenar o espírito. Com a ajuda de um medicamento para tirar o mal estar, a viagem seguiu tranqüila, com algumas paradas por outras cidades; parada para almoçar; parada para jantar; o ônibus era confortável, mas..., nunca gostei de ônibus, afff (rs). Foi se o dia e a noite viajando naquele balanço total; 07h30min da manhã do dia 9/5/2016 cheguei à rodoviária de Belém; muito cansado; uma noite sem dormir; o corpo doendo por todos os lados e muita fome.       


             Belém merecia ter uma rodoviária melhor; afinal uma capital com a sua importância; a rodoviária deixa muito a desejar. Sai do ônibus querendo muito tomar um café e comer alguma coisa, afinal já se iam mais de 12 horas sem comer nada. Parei em uma das varias lanchonetes da rodoviária; dei um bom dia para a garçonete e a mesma nem olhou na minha cara; logo desconfiei que ela estivesse na tpm, (rs); perguntei para a antipática senhorita se tinha café; ela me respondeu com pouca delicadeza que teria primeiro que pagar no caixa. Normalmente sou muito tolerante, mas depois de uma viagem exaustiva, acho que também fiquei na tpm; (rs). Logo respondi que, eu tinha perguntado se tinha café; não tinha perguntado onde pagaria o café, afinal tenho que saber primeiro se tem o produto para depois decidir se iria comprá-lo. Enfim antes não tivesse perguntado; o café foi caro e ruim; e a coxinha fria e com cara de amanhecida. Paguei e não bebi e nem comi, (rs). Mas deixando esses detalhes para trás; afinal meu objetivo ali era outro; peguei um táxi e fui direto ao porto.      

                  Em Belém tem dois tipos de portos; as Docas, para turista, onde é tudo muito organizado e caro e o porto “real” onde as pessoas comuns pegam suas embarcações para viajar pelos rios da Amazônia. O porto onde realmente as coisas acontecem, é um lugar bem sujo; muito lixo, um pouco desorganizado e sem sinalização. Se tivesse com carro próprio iria demorar muito para encontrar o porto e muito mais ainda para encontrar o barco onde pretendia seguir viagem. Como fui de táxi; não tive muitos problemas para encontrar o barco que me levaria até Macapá. Minha intenção era ir de Belém a Macapá; depois de Macapá para Santarém; de Santarém até Manaus, e de Manaus até... ; só o Grande Arquiteto do Universo poderia saber; pois ainda estava estudando o roteiro.


VIAGEM DE BELÉM À MACAPÁ

                 
     A viagem para Macapá seria feita com o NAVIO ANA BEATRIZ IV; era um barco grande com capacidade para 740 passageiros, mais tripulação e cargas. No barco tinha duas opções de viagem; ir pendurado em rede ou alugar um camarote. Comprei um bilhete para o camarote, porém só tinha um camarote disponível, e o mesmo já estava ocupado por uma pessoa; ou seja, iria dividir um camarote com uma pessoa totalmente desconhecida; achei melhor isso, do que passar 24 horas em uma rede, com minhas bagagens expostas; a maioria das pessoas, viajavam com outras pessoas, assim quando um sai de perto das bagagens, outro fica olhando; no meu caso estava viajando sozinho, então achei melhor não arriscar.
                    As 11h30min da manhã zarpamos rumo a Macapá; subi até o ponto mais alto do barco e avistei ao mais longe que pude; fui vendo a grande cidade de
Belém ficando para trás e a minha frente apenas um imenso rio e muita floresta; o vento tocando meu rosto, a mente vagando, o coração palpitando, e um misto de admiração e solidão me tomaram de assalto. Para alguém que gosta de contemplar a natureza; com certeza a paisagem do Rio Amazonas com sua imensidão de águas e florestas é um espetáculo único. Fomos subindo o rio e aproveitando para apreciar a paisagem enquanto era dia.                        
                  O barco que aqui eles chamam de navio, tinha o porão onde ficava a casa de maquinas; o primeiro piso, era onde se colocavam as mercadorias que transportavam de uma cidade a outra; o segundo piso tinha uma parte ocupada pelos camarotes, que continha banheiro privativo, uma beliche, e ar condicionado; noutra parte tinha um salão enorme onde era reservado para as pessoas que viajariam penduradas em redes; o salão era fechado com janelas de vidro e climatizado com potentes ares condicionado; ao fundo ficavam os banheiros comunitários, a cozinha e o refeitório; no terceiro piso tinha mais camarotes e mais um salão para redes; porém esse era sem ar condicionado; e no fundo do terceiro piso tinha um bar. À, o bar; O bar era onde rolava o maior barulho do barco, mais barulho que os próprios motores, (rs). O bar abria às 9 da manhã e fechava só a hora que não tivesse mais clientes; serviam bebidas em geral, salgados, porções e outras pequenas coisas; enquanto o bar estivesse aberto o som rolava alto e sem trégua; brega, tecnobrega e calypso, era só o que tocava no volume máximo o tempo todo; à noite, além da musica, tinha um telão onde passava o show do artista que estava cantando; as luzes brancas se apagavam e as luzes coloridas piscando, tomavam conta do ambiente; algumas pessoas dançavam, outras continuavam bebendo; enfim era uma boate funcionando até no meio da madrugada dentro de um navio, navegando pelo Rio Amazonas.
                  Como não existia luxo, o preço da viagem até que não era exorbitante; a passagem na rede era 120 reais; o camarote era 250 reais por pessoa; se quisesse ficar sozinho no camarote teria que pagar 500 reais. O café estava incluso no preço das passagens, porém o almoço e a jantar eram 15 reais por um prato feito ou por marmitex. A comida até que não era ruim, porém a quantidade para quem come bem, não era suficiente, além do espaço do refeitório ser minúsculo pelo tanto de passageiro.

                  A beleza da natureza é realmente magnífica nesse pedaço do Brasil. Ao longo da subida do rio, de pouco em pouco vemos algumas casas de ribeirinhos; povo que vive do que a floresta e o rio lhes proporcionam; de tanto em tanto tinha alguns vilarejos com mais ou menos dez ou vinte casas, todas feitas em madeiras e o mais próximo possível da beira do rio.
                  Quando o navio de passageiros passava; mulheres e crianças vinham navegando com suas pequenas canoas de madeira em direção ao grande barco, na espera que alguém jogasse algo; como roupas, bolachas e outras coisas que pudessem se tornar úteis. Alguns passageiros às vezes jogavam coisas dentro de sacolas plásticas, onde as pequenas embarcações corriam para apanhar. Numa dessas passagens, veio rumo ao navio, uma pequena canoa de madeira com uma mulher de uns trinta anos; uma criança de uns três anos e outra criança com uns oito anos; a canoa de madeira era tão pequena e vinha tão rente a água que não conseguiu se manter flutuando diante da onda da nossa embarcação; sendo que a mesma virou, jogando os ocupantes todos, dentro do imenso Rio Amazonas; logo veio outros pequenos barcos socorre-los; porem eu só vi salvarem a mulher e a criança maior; a outra criança menor não conseguiu ser salva, sumindo nas águas barrentas do grande rio. Segundo a mãe relatou em meio a muitas lagrimas, que esse já era o terceiro filho que ela perdia para o grande rio.                
                 Continuamos navegando rio acima margeando a ilha do marájo para chegarmos a Macapá que era o nosso destino; tudo correndo muito bem até que começou a escurecer. Para quem não está acostumado com a navegação noturna pelos rios da região, a sensação de insegurança é inevitável; ainda mais que o Rio Amazonas tem um transito de barcos, navios e balsas muito grande, subindo e descendo o rio dia e noite e noite e dia. Mesmo um pouco inseguro nas primeiras horas da noite, fui até o bar e fiquei observando o movimento, até que lá pelas 22h00min começou um temporal de proporções amazônicas; ai realmente eu fiquei muito preocupado; muita chuva, muito raio e muito vento; o rio começou formar marolas, o barco balançando um pouco, a tensão foi aumentando; e para todo lado que se olhava era só chuva, vento e escuridão; mesmo quando os relâmpagos clareavam o mundo, nada se via que parecesse terra firme. Assim foi até próximo da meia noite; e o tecnobrega continuava correndo solto; o povo que estava no bar, que por excesso de bebida ou por já estarem acostumados com o ambiente, nem tomaram conhecimento do balanço do barco. Depois da meia noite os ventos cessaram; as águas se acalmaram; mas a chuva continuou ate amanhecer o dia; porém acho que só eu estava tenso; pois o bar e o tecnobrega não pararam um minuto até as 2 da manhã. As 06h00min da manha começou a clarear e o café começou a ser servido. Foi um café realmente só para tirar o gosto do creme dental da boca; não da para dizer que você esta tomando aquele café da manhã. Com a broca do estomago tampada, fui novamente apreciar a paisagem; conversar com as pessoas e ver a chuva que continuava a cair.
                       Neste cenário, a pressa, o estresse ou qualquer tipo de compromisso com hora marcada não existe; aqui dependemos de um navio que navega lentamente vencendo a correnteza do rio; que por sinal depende do clima, que também depende de um pouco de sorte para se chegar a algum lugar; tive noticia que uma semana antes dessa viagem, este mesmo navio que estávamos, chocou-se com um tronco de arvore flutuando pelo rio durante a noite, danificou a hélice e o leme. Os ocupantes do barco ficaram ancorados no meio do rio por dois dias, até que outra embarcação veio socorre-los e leva-los aos seus destinos. 
                       
                     A viagem de Belém a Macapá durou 24h30min horas, divididas entre observação da natureza, meditação, alimentação, descanso, um pouco de leitura, e longas conversas com pessoas da região; afinal celular e internet por essas bandas são raridades. As pessoas dessa região utilizam os barcos, como a maioria das pessoas das grandes cidades, utilizam ônibus para se deslocar de um lado para outro. Aqui as rodovias são os rios.
                    Ao meio dia chegamos ao porto de Macapá; logo já fui vendo, outro navio que iria com destino a Santarém; porém o mesmo só sairia no outro dia às 18 horas; comprei a passagem, guardei minhas malas no camarote que dessa vez consegui um camarote só para eu, e sai para conhecer um pouco da cidade de Macapá; e logicamente arrumar um restaurante digno de uma boa refeição.
                    Peguei um táxi para conhecer um pouco da cidade de Macapá; parei no marco zero para tirar umas fotos; ao menos para dizer que já tive no hemisfério norte, (rs). Para quem não sabe, a linha do equador corta Macapá ao meio, e o marco zero é justamente onde acontece o equinócio duas vezes ao ano; pude ter o privilegio de ficar com um pé no hemisfério sul e o outro pé no hemisfério norte; logo adiante do marco zero, tem um estádio de futebol que se chama Estádio Olímpico Zerão; neste estádio, a linha do meio campo fica justamente na linha do equador; ou seja; sempre que tem jogo, um time joga no hemisfério sul enquanto o outro joga no hemisfério norte.

                    Seguindo em frente, passei pela praia da fazendinha nas margens do Rio Amazonas; pelo antigo forte da época da colonização portuguesa; passei também pela orla de Macapá, a procura de um bom restaurante para tirar a barriga da miséria (rs). Achei um restaurante simples, com comida boa e barata; comi a vontade por R$13 reais; uma pechincha; alias comida aqui é muito barato. Barriga abastecida; fui conhecer melhor a cidade.
                   A cidade de Macapá é bem movimentada; tem uma orla bonita as margens do Rio Amazonas; tem um comércio aquecido, com muitas lojas de redes famosas; tem um porto movimentado; tem algumas belas construções; porém é mal cuidada e com lixo e mato para todos os lados; aqui como em outras cidades da região norte carece muito da coleta de lixo mais eficiente e saneamento básico; educação ambiental nas escolas seria um bom começo.             
                   Cidade conhecida, pelo menos superficialmente; voltei para o meu novo lar temporário que me levaria até Santarém no dia seguinte.

                   Com a chuva que não cessava, aproveitei o tempo disponível para escrever um pouco sobre a viagem; ver as notícias do Brasil pela internet e observar o movimento do porto. 

VIAGEM DE MACAPÁ À SANTARÉM


                       A viagem para Santarém seria feito no NAVIO SEAMAR III; este navio era um pouco menor que o anterior, porém era mais novo, limpo, e mais confortável. As 18h20min do dia 11/05/2016 começamos a navegar novamente pelo Rio Amazonas. Aos poucos Macapá foi ficando para traz, porém mesmo depois de 4 horas navegando ainda era possível ver o clarão das luzes da cidade acesa no horizonte. A passagem deste navio era mais barata; paguei 300 reais pelo camarote só para eu e com alimentação inclusa. Este navio me ensinou que passagem barata com alimentação inclusa é ilusão; logo na primeira refeição já tinha sentido o drama; no jantar foi servido somente sopa de macarrão com uns pedaços de canela de vaca com farinha; uma sopa extremamente gordurosa; diante da falta de opção, acabei comendo a sopa a qual me deixou recordações até no outro dia. O café da manhã tinha pão com manteiga e um copo de café com leite, sem direito a repetição. No almoço foi servido macarrão sem nenhum tipo de molho ou tempero, feijão sem gosto, frango e farinha; era um prato feito para cada passageiro. Fiquei com saudade da comida do primeiro navio (rs).

                       Subindo o rio, sem chuva; porém o tempo fechado e muitos relâmpagos; as águas não estavam muito calmas; o navio balançava bastante; fiquei no primeiro camarote da parte da frente do navio e no último piso. Fiquei até altas horas, sentado na parte externa do camarote; observando a escuridão e a imensidão amazônica; com aquele barulho da água batendo no casco do navio, que mais parecia uma musica dessas que faz você viajar pelo passado; como se fosse uma higiene mental feito pelas águas do Rio Amazonas. O tempo fechando; lá pela uma da manhã, querendo dormir; porém as águas não estavam muito calmas e a cada balançada do barco a porta do banheiro batia; saía do camarote para ver se estava acontecendo algo; acho que era excesso de preocupação (rs). As três da manhã acordei novamente com o barco parando; sai para ver o que estava acontecendo; simplesmente o barco estava parado no meio do rio; fiquei observando, quando uma luzinha apareceu ao longe e veio vindo em direção a nossa embarcação; era um barco pequeno que comportava no maximo umas 10 pessoas; emparelhou-se ao lado do nosso navio e duas pessoas mudaram para o pequeno barco, com suas tralhas no meio daquele rio enorme em meio ao escuro da madrugada. Traslado efetuado, nosso navio seguiu seu curso. Veio um pensamento; se você estiver viajando de ônibus por alguma estrada; chegando ao ponto de parada, se alguém estiver te esperando ou não; você desce e da um jeito de ir embora. No caso do transporte fluvial pelos Rios da Amazônia, este tipo de parada não seria possível; se não tiver ninguém te esperando, você simplesmente não tem como descer; ai da para imaginar a complicação, pois, o navio não vai ficar esperando sua carona vir te buscar; se seguir em frente vai levar alguns dias até você conseguir voltar naquele ponto novamente; detalhe que não tem sinal de celular para marcar a hora de se encontrar no meio do nada. Entre Macapá e Santarém foram mais de 20 paradas desse tipo e nenhuma teve problema. Fiquei impressionado como a vida se adapta a realidade do lugar.     

                           A segunda noite rumo a Santarém foi tudo de bom; tempo firme; céu estrelado, uma lua cheia que dispensava o farol do barco; brisa fresca; águas calmas e um cheiro de floresta indescritível. Fiquei até no meio da madrugada sentado na proa do navio, apreciando a noite, e meditando sobre a vida maravilhosa que podemos ter, se tivermos um pouco de desapego das coisas e das pessoas, que muitas vezes nem nos damos conta de como ficamos limitados por tais compromissos.

                          Depois de 40 horas de navegação, chegamos à Santarém pela manhã; desci do barco e fui direto para um hotel bem próximo ao porto e de frente para o rio. Depois de hospedado, sai para conhecer a cidade. Santarém é uma cidade de uns 300 mil habitantes; muito movimentada; comercio aquecido; muitos carros na rua; porto movimentado; um mercado enorme com espécies de peixes amazônicos para todos os gostos; aeroporto com vôos regulares para todo o Brasil; enfim uma bela cidade. 

                 Fui também conhecer, o badalado distrito de Alter do Chão, distante uns 30 km de Santarém; famoso pelas suas praias as margens do Rio Tapajós com muita areia branca e água azul turquesa incomum; lugar muito bonito e agradável para passar as férias; freqüentado por gente do mundo inteiro na alta temporada; porém por estarmos no período das chuvas não era temporada de praia. Voltei para o hotel e fui descasar para começar a subir o rio na manhã seguinte rumo a Manaus.

VIAGEM DE SANTARÉM À MANAUS

   
                                 
                      No dia seguinte às 9 horas da manhã, eu já estava nas docas para embarcar. Tinha comprado uma passagem por R$500,00 para ficar sozinho em um camarote. A pessoa que me vendeu a passagem, no dia anterior tinha me dito que o Navio Rondônia sairia às 10 horas. Embarquei às 10 da manhã, porém a embarcação só começou a navegar às 12:30 horas. Logo na entrada da embarcação já comecei a sentir saudades dos dois outros navios que eu havia viajado anteriormente. Diante da nova embarcação que iríamos até Manaus; as outras duas embarcações eram quase um transatlântico. O Rondônia era uma velharia enferrujada; extremamente suja, e muito desorganizado; o acesso dos passageiros para a parte superior da embarcação se dava em meio a montes de caixas de todo tipo de mercadoria; os passageiros, mais parecia uma manada de gado que estava sendo levado para um curral flutuante; tamanho era o desconforto dos passageiros e o descaso por parte da tripulação. O Rondônia é um dos maiores barcos que navegam pelos rios da Amazônia; porém se tivéssemos uma fiscalização séria por parte dos órgãos governamentais, ele já estaria fora de circulação. Alojei-me neste monte de sucata, e fui dar uma volta para conhecer melhor o ambiente; a única coisa que tinha de melhor neste barco em relação aos outros barcos, era o bar. O bar tinha uma área mais ampla e a dona do bar era uma senhora extremamente simpática; bebida muito gelada; tinha uns lanches bem gostosos e com cara de limpo, e musica alta como todos os outros; mesmo assim passei a maior parte da viagem no bar. A comida neste barco me parecia melhor que a dos outros; porém já no primeiro almoço que iria experimentar; mudei de idéia quando vi algumas baratas correndo pelo refeitório (rs). Achei melhor ficar com os lanches do bar, que estes pelo menos eu via como eram preparado.

                     A viagem de Santarém à Manaus não teve tantas emoções quanto às outras duas; não teve tempestade, e por esta embarcação ser bem maior, não balançou muito. Foram três dias e duas noites navegando na calmaria; subindo o Rio Amazonas lentamente; a paisagem como sempre, belíssima; como não teve tempestade, pude apreciar maravilhosos por do sol e amanheceres dignos de cartões postais; duas noites estreladas e com uma lua maravilhosa; conheci muitas pessoas interessantes; muita prosa de todo tipo; histórias de vida muito diferente uma das outras; entre tantas histórias; conheci o seu Zé Biguá; um maranhense de uns 65 anos, muito falante; disse que morava à 45 anos num vilarejo nas margens do Rio Negro quase na fronteira com a Colômbia; tinha ido visitar a mãe que morava no Maranhão, na qual fazia 30 anos que não a via; essa teria sido sua última visita para ver a mãe ainda viva; me disse também que só veio com o dinheiro da viagem de ida, que na volta estava parando de porto em porto fazendo uns bicos para poder comprar a passagem para o próximo porto, até chegar em casa novamente. Conheci o Roberto; um engenheiro de uns 40 anos; contou que depois de 10 anos casado, profissional bem sucedido e de família rica; decidiu largar tudo e se tornar um monge Hare Krishna; natural de Poços de Caldas, próximo a minha terra natal; estava viajando pela Amazônia divulgando sua religião. Conheci um casal de alemães que tinha um ano viajando pelo Brasil; disseram que estavam maravilhados com tudo que já haviam visto. Conheci dois senhores holandeses que também estavam conhecendo o Brasil; disseram que não estavam com vontade de voltar para a Holanda. Conheci também duas mulheres de Imperatriz do Maranhão que estavam indo trabalhar num cabaré em um garimpo em Roraima perto da fronteira com a Venezuela; segundo elas disseram, que enquanto o programa no maranhão valia R$70,00 reais; no garimpo eram dois gramas de ouro; acho que isso equivaleria a uns R$250,00 reais; que dentro de um ano voltariam ricas com Cem mil reais cada. Imaginei que a noção de riqueza é bem diferente de uma pessoa para outra. E assim entre um historia e outra, depois de aproximadamente 60 horas navegando pelo Rio Amazonas chegamos a Manaus.

                          Chegando a Manaus me hospedei num hotel bem no centro; perto do Teatro Amazonas. No outro dia sai para conhecer a cidade e logicamente conhecer o famoso e histórico Teatro Amazonas; do lado do Teatro encontrei um restaurante que se chama “Tambaqui de Banda”, onde serve o melhor tambaqui que já comi; o dono disse que é o melhor tambaqui do mundo. 

                  Conheci varias coisas em Manaus; o distrito industrial da zona franca, com suas grandes indústrias; a bela praia da ponta negra que fica as margens do Rio Negro; muito limpa e organizada; a enorme e moderna ponte sobre o Rio Negro; a Ponte Rio Negro liga a cidade de Manaus ao município de Iranduba; inaugurada em 24 de outubro de 2011, é a única ponte que atravessa o trecho brasileiro do Rio Negro; sendo considerada como a maior ponte fluvial e estaiada do Brasil; com 3,6 km de extensão (3.595 metros) simplesmente uma obra magnífica. O custo total da Ponte Rio Negro foi de 1,099 bilhão de reais.

                Andei pelo calçadão do comércio onde comprei um perfume francês um pouco mais barato do que tinha visto na internet. Depois de dois dias andejando pela grande cidade e admirando as antigas e monumentais construções do centro histórico, já era hora de colocar o pé na estrada novamente. Fui até a rodoviária e segui rumo a Boa Vista capital do estado de Roraima.


VIAGEM DE MANAUS À BOA VISTA


                No dia 17/05/2016 às 10 horas da manha tomei o ônibus na rodoviária de Manaus em uma viagem de aproximadamente 800 km rumo à Boa Vista capital de Roraima. Uma curiosidade; a rodoviária de Manaus é minúscula em relação ao tamanho da cidade com quase dois milhões de habitantes; isso se justifica pela pequena malha viária existente no estado do Amazonas. O preço da passagem de Manaus a Boa Vista era de R$142,00, porém diante do pouco movimento devido a crise econômica, a empresa estava fazendo uma promoção com passagens à R$100,00, e mesmo assim não tinha mais que dez pessoas dentro do ônibus. Na saída de Manaus pela Br 174 não pude deixar de observar as tantas chácaras de lazer com seus balneários, nos diversos igarapés (pequenos rios) que tem na região. Algumas são de usos restritos e muitas são abertas ao público. Depois de Manaus a primeira cidade é Presidente Figueiredo; a cidade das cachoeiras. Não tive tempo de parar para conhecer melhor à cidade; porém pelas fotos que vi pela internet, a cidade realmente merece o titulo que tem. Seguindo pela Br 174 que por sinal esta totalmente reformada; logo passamos dentro da reserva indígena wiriqki aikiki. Acho que andamos mais de 100 km dentro da reserva; só terra de boa qualidade; muita terra para pouco índio. 

Seguindo em frente, passamos por mais algumas cidadezinhas; depois de 12 horas de estrada chegamos à Boa Vista. De Manaus até passarmos a reserva indígena a vegetação é de floresta amazônica; depois da reserva indígena até Boa Vista, a vegetação é típica de cerrado, com imensas veredas de buriti, assim como é em praticamente todo o estado do Tocantins, onde moro. Chegando à Boa Vista, me surpreendi com a bela cidade; com avenidas largas e ajardinadas; cidade limpa; muito organizada; banhada pelo Rio Branco, com suas praias de areia branca e água limpa; uma orla toda revitalizada; realmente a cidade de Boa Vista faz jus ao nome que tem; sem dúvida nenhuma, é uma das poucas cidades limpa e organizada existente em toda a região norte do país. Valeu às 24 horas de ônibus para ir e voltar pela br 174. Enfim, de volta à Manaus, fui até o porto para comprar a passagem por R$700,00 num camarote exclusivo, porém sem banheiro privativo, para a próxima etapa da viagem que seria de Manaus à Porto Velho.

VIAGEM DE MANAUS À PORTO VELHO

    
   
              No dia 21/05/2016 as 19:40 horas saímos do Porto de Manaus navegando rumo a Porto Velho; aos poucos a grande cidade construída no meio da floresta foi ficando para trás, naquela imensidão de água e floresta; navegando a bordo da balsa Almirante Moreira IX, descendo o Rio Amazonas até próximo à cidade de Itacoatiara, virando para a direita e subindo pelo Rio Madeira. A noite estava maravilhosa; lua cheia; céu estrelado; brisa típica dessa imensidão de rio; uma reflexão solitária de tudo que a vida já me proporcionou se torna inevitável, diante do quanto nos sentimos insignificantes perante a imensidão da natureza; é uma terapia indescritível; você nesse mundão de meu deus; sentindo o ambiente e contemplando as belezas da noite; realmente não tem como não sensibilizar-se. 

No meio da madrugada, o cansaço falou mais alto; entrei no camarote e fui descansar. Na manhã seguinte acordei cedo e desci para tomar café; quando para minha surpresa já não tinha mais café; meio indignado eu perguntei a que horas serviam o café; o sujeito da cozinha me disse que era às 6 horas da manhã, naquela hora já não tinha mais café; detalhe que eram apenas 6:30 horas; como minha disposição para certas coisas é bem pouca, voltei para o camarote e fui comer umas bolachas que tinha trazido. Mais uma vez ficou provado que barco com refeição inclusa no valor da passagem não é uma boa opção, mesmo pagando um preço elevado pela passagem, o tratamento deixa muito a desejar. A impressão que tive em todos os barcos que viajei, foi que para os proprietários dos barcos que navegam pela Amazônia; o passageiro não é um cliente e sim uma carga como outra qualquer a ser transportada; portanto não precisa de muitos cuidados; a comida no geral não tem qualidade e nem variedades; os horários não são flexíveis; café da manhã começava as 6:00 horas e seguia até hora que acabace o café (geralmente acabava em 20 minutos); o cardápio tinha café com leite e pão com manteiga; isso só foi no primeiro dia que consegui tomar o café; os dias seguintes nem o pão tinha mais; era leite, café e bolacha de água e sal. O almoço começava as 11:00 horas e seguia até hora que acabasse a comida; no cardápio era sempre a mesma coisa; arroz, feijão, macarrão sem tempero e sem molho, uma carne e salada de repolho com pepino. O jantar começava às 17:00 horas e seguia até acabar a comida; o cardápio do jantar eu não soube qual era, pois nunca tive fome para jantar as 17:00 horas. O anúncio avisando que estava na hora das refeições; eram feitos com um apito igual aqueles que se usam para apitar jogos de futebol; toda vez que eu ouvia o som do apito, tinha a sensação que era o tratador anunciando para a porcada que a lavagem já estava no coxo. O primeiro dia navegando pelo Rio Madeira não teve muita diferença dos outros dias em outros barcos; conversas com varias pessoas, som alto no bar; rio e mata passando; coisas que já vão se tornando rotineiras para alguém que já estava com mais de 3 mil km navegados (rs); mas alguns detalhes  sempre marcam. Por esta viagem ser mais longa que as outras, teve muito mais conversas e uma aproximação maior com os companheiros de viagens. 

Conheci um grupo de quatro colombianos vindos de Medelin; terra do famoso traficante de drogas; Pablo Scobar; estavam indo com destino a Córdoba na Argentina; iriam até Porto Velho; depois entrariam pela Bolívia; depois Paraguai e finalmente Argentina. Não entendi muito bem o que eles iriam fazer em Córdoba; a impressão que tive, era que eles estavam fugindo de alguma coisa no país de origem; não prolonguei a conversa que tivemos em portunhol; mantive certa distância, por acharem eles um pouco folgado demais para o meu gosto. Conheci também o Sr. Romeu; um senhor de 58 anos; ex- caminhoneiro; ex-madeireiro; ex-fazendeiro; ex-botequeiro; ex-maconheiro; ex-dono de puteiro; atualmente pastor evangélico; como disse ele; depois que não tem mais onde o sujeito não prestar, vem o chamado de Deus para mudar de vida e levar a palavra; este passou a viagem toda em vão, tentando me converter para a sua religião. Conheci um jovem casal e mais cinco amigos, todos venezuelanos, fugindo do governo bolivariano de Nicolas Maduro; estavam seguindo de mudança para o Uruguai, onde já tinha outros venezuelanos fugindo do regime; disseram que viver na Venezuela estava muito difícil economicamente, e muito perigoso por causa das perseguições política; até falar ao celular estava perigoso; estavam seguindo da Venezuela para o Uruguai de carona, pois o pouco dinheiro que tinham, era para a alimentação; o único gasto com transporte estava sendo com o barco. 

Conheci o seu Pedro Cabeludo; garimpeiro no Rio Madeira a mais de 30 anos; entre tantas histórias que me contou sobre o garimpo, algumas histórias e muitas expressões verbais me chamaram à atenção; disse que na balsa que ele e mais cinco companheiros trabalhavam, todo o ouro que conseguiam, eram divididos em três partes iguais; a primeira parte era para custear as despesas da balsa que lá eles chamam de escarifuça; a segunda parte era para manter a família, que normalmente moram longe, e a terceira parte era para o “equilíbrio dos homens” (termo usado pra falar sobre os gastos com prostitutas e bebidas); em muitas partes da conversa, eu pedia a tradução das expressões usadas por ele. “FOFOCA” é o lugar onde descobriu que tem ouro; “BAMBURROU” é o termo usado quando alguém encontrou ouro suficiente para ficar rico ou passar um bom tempo só na farra sem precisar trabalhar; “O BRUTO” é o sujeito novato no garimpo; aquele que não tem experiência no serviço; “FOI ESCARRADO” é o termo usado para dizer que o individuo foi demitido do trabalho; disse que foi mergulhador por vinte e dois anos, e passava em media oito horas por dia no fundo do rio, com uma mangueira sugando todo o cascalho, e mandando para pequena  balsa de madeira, para ser lavado e extraído o ouro; porém parou de mergulhar porque ficou com um dos ouvidos espocado (estourado); para não pegar friagem no peito por causa dos constantes mergulhos, disse que uma vez por semana tomava café com banha de onça ou banha de sucuri. 
         Conheci também uma mulher por nome Jussara Roço; Peruana de Cuzco; morena alta, com traços indígenas; contou-me que pertenceu a um grupo guerrilheiro que atua na fronteira do Peru com a Colômbia; depois de cinco anos morando na selva em acampamentos improvisado, resolveu mudar de vida, e veio para o Brasil começar uma nova vida; por lá estava recebendo ameaças por parte dos seus antigos companheiros de armas; viveu um ano em Manaus, e agora estava indo de mudança para Porto Velho onde tinha uns parentes que haviam vindo recentemente da Bolívia. 
            Enfim após aproximadamente 120 horas navegando, chegamos a Porto Velho, capital do estado de Rondônia. Depois de 5 dias e 5 noites navegando pelo Rio Madeira, quase todos os passageiros do barco ficaram de alguma forma próximos; quase amigos; foi uma sensação estranha despedir dessas pessoas; algumas de outros países; alguns que estão em busca de seus sonhos; outros apenas estão vivendo sua vida rotineira de gente que escolheu a Amazônia como o seu lugar de partida e de retorno; outros como eu, que apenas resolveu dar uma pausa na rotina da vida para conhecer mais um pouco do nosso pais e meditar sobre a vida; enfim, são pessoas que provavelmente jamais voltarei a velos; porém foi justamente com esse confinamento forçado pela circunstância, que tornou possível essa aproximação entre pessoas de mundos tão diferentes; com isso foi possível conhecer muitas histórias de vidas; observar muito a paisagem; meditar bastante e repensar muitas coisas da própria vida; afinal para quem é bom observador e medita muito sobre a vida; não tem como fazer uma viagem dessas e voltar do mesmo tamanho. Desci no porto, peguei um táxi para seguir até um hotel para um merecido descanso. 

          Porto Velho foi o primeiro lugar nesta viagem, que desci do barco e não tinha nenhum motorista de táxi à espera de passageiros; tive a impressão que não estão precisando trabalhar; se quis pegar um táxi, tive que andar muito longe do porto para conseguir um. Após dar umas voltas e conhecer melhor Porto Velho; hospedei num hotel em frente à rodoviária; no outro dia de manhã peguei o ônibus com destino à Rio Branco capital do estado do Acre e ponto final dessa viagem.



VIAGEM DE PORTO VELHO À RIO BRANCO

    

                      As 7:00 horas da manhã, peguei o ônibus na rodoviária em frente ao hotel em que estava hospedado, e segui para Rio Branco; depois de tanto navegar pelos rios da Amazônia, fica até um pouco estranho viajar por via terrestre novamente; já estava acostumando com a lentidão dos barcos e as prosas descontraídas com os passageiros.
           A viagem de ônibus é uma viagem desconfortável, porém seguindo rumo ao Acre pude ver alguns trechos da histórica e antiga Ferrovia Madeira Mamoré, com partes dos trilhos do trem ainda visíveis, e algumas pontes de ferro que resistem à corrosão do tempo. Seguimos pela BR364 que liga Rondônia ao Acre; quando chegamos para a travessia do Rio Madeira já a uns 200 km depois de Porto Velho; tive a surpresa que a travessia ainda era feita em balsas; uma ponte está sendo construída à muito tempo, e em ritmo muito lento. 

           No ano de 2014 teve uma grande cheia no Rio Madeira; por falta de ponte, o estado do Acre ficou isolado do resto do Brasil por mais de vinte dias. As qualidade das terras ao longo da BR364, são as melhores possíveis; terras vermelhas e planas; alguns trechos levemente ondulados; muitas grandes fazendas de gado; muita mata preservada; mata de castanheira. O Acre tem 85% do seu território preservado. Na chegada na capital Rio Branco, a policia rodoviária federal mandou o ônibus encostar e pediu documento de todos os passageiros; começou uma fiscalização nas bagagens e muitas perguntas; tipo de onde vem, para onde vai e coisas desse tipo. Tudo esclarecido e nenhum bandido preso; chegamos a Rio Branco. Peguei um táxi e me hospedei num hotel do lado da praça central, próximo ao Palácio do Governo. De todas as cidades que conheci nesta viagem; Rio Branco realmente merece destaque; cidade muito bonita, limpa e organizada; mistura parte histórica conservada e parte moderna; andei muito pelo centro de Rio Branco a pé; conhecendo o comércio; os monumentos públicos; a praça central que por sinal é muito bonita; a orla do Rio Acre; o mercado velho, antiga zona boêmia totalmente restaurada; e em plena praça central, as 10:00 da manhã, me deparei com um baile da terceira idade com muitos senhores e senhoras no maior embalo da dança como se os anos para ambos não tivesse passado (rs); cidade agradável, clima ameno; povo hospitaleiro; enfim se eu tivesse uns vinte anos a menos e não tivesse as raízes que já finquei no sertão do Tocantins; minha mudança para o Acre e principalmente Rio Branco seria uma probabilidade bem considerável.
          Depois de dois dias na capital do Acre; cansado pelos vinte um dias de viagem; sem roupa limpa para usar; sentindo frio, pois não estava preparado para o clima frio; saudades das pessoas que amo e do calor do meu Tocantins; resolvi que era hora de voltar para minha terra. As 2:30 horas da manhã do dia 29/05/2016 peguei um vôo de Rio Branco para Brasília e em seguida de Brasília para Palmas; trazendo na bagagem muitas fotos, recordações, aprendizados que levarei para o resto da minha vida, e a certeza que se o Grande Arquiteto do Universo me der vida e saúde voltarei fazer outra viagem pela Amazônia num futuro próximo, para conhecer melhor alguns lugares por onde passei e conhecer também alguns lugares que não tive tempo de passar. 
         A Amazônia é imensa, não tem como conhecer o suficiente em uma única viagem. Enfim gostei muito de tudo que conheci. Esta viagem ficará na história da minha vida, como a viagem mais extraordinária que fiz até hoje em termos de conhecimento e meditação. Ela realmente fez muita diferença, pois não tem como fazer uma viagem dessas e voltar do mesmo tamanho.